quinta-feira, 26 de junho de 2008

Andanças pela internet...


O semestre está acabando... e não é que nesses momentos entre um café e outro estava eu fuçando no google e encontrei tal conto sobre um asno com o mesmo nome que o meu... foi na página http://usuarios.jupiter.com.br/livaldo/cantineiro.html. Confiram comigo no replay:



O Cantineiro - por Livaldo Fregona


"Bem perto de Nova Vida-MA há uma estrada que leva à Fazenda Amazônia, comumente conhecida como "Terras da SAMBRA". Há muitos anos tomava conta lá um português: pagamento tardio dos lusitanos, que tanta escória nos enviaram no tempo da colonização. Este era um homem correto, honesto: um homem com H maiúsculo, como se costuma dizer.
Todos sabem que numa fazenda que se preza há muitas coisas indispensáveis: gado de raça, bons reprodutores, montarias adequadas... A SAMBRA possuía dez mil alqueires de mata que, por causa da ultrapassada e estúpida lei do país, estavam sendo destruídos para a formação de pastarias e para assegurar o direito de posse do latifúndio.
Foi nessa época que a firma importou o Cantineiro, um reprodutor famoso que, talvez, nem os egípcios tenham tido similar. Os peões da fazenda, que sabiam da chegada do garanhão, ficaram extremamente frustrados ao ver descer da gaiola, um asno de aparência estúpida, cabisbaixo, raquítico e abatido pela viagem. E a saber que teria a incumbência de cobrir centenas de éguas fogosas que andavam saltitando pela recente pastaria!
- Este aí não agüenta nem a mula véia lá do Jacó das Antas - foi logo observando, cheio de malícia, um mulato sarará.
O jegue foi colocado num curral apropriado e tratado com certo desvelo. Depois de apenas duas semanas de adaptação e descanso foram-lhe levadas algumas éguas... depois, mais algumas... depois outras e todas foram cobertas com a mesma sofreguidão da primeira. A fama de IMPORTADO que a incredulidade dos caboclos da fazenda parecia querer derrubar, logo foi reconquistada.
Com o tempo as mangas ficaram cheias de burrinhos que cresciam belos e fortes. O pai estava lá, sempre cabisbaixo e aparentemente apático. Nunca uma aparência enganou tanto! Quem olhava aquela figura esquálida, não acreditava no potencial que resumia.
Um dia, porém, certamente indisposto ou doente, ele não ligou para uma égua que lhe fora apresentada: não precisou mais que isso para que o Português (era assim conhecido o Sr. José Manoel) chegasse à dura e, pela primeira vez, injusta conclusão de que o jegue era bananeira que já havia dado cacho. Além de suprimir suas mordomias, ainda o relegou ao humilhante serviço de carregar marmitas para os derrubadores de mata. Daí veio-lhe a alcunha de Cantineiro. Caído em desgraça, ele foi levado para uma pequena e abandonada manga. Só saía de lá na hora do almoço, quando, sob o peso de duas enormes quiçambas cheias de marmitas e carotes d'água, desfazia 10 km de estrada.
Mais gordo, passos trôpegos, cabisbaixo em sinal de protesto... lá ia ele todos os dias para o trabalho rotineiro. Afinal, viera da África para "trabalhar" e não era justo que negasse fogo. Mas, deixa que o tempo é sempre o melhor veredicto de um fato com duas versões. E o Cantineiro, cabisbaixo, pastando o capim peco de uma estiagem danada, ia passando os dias aparentemente resignado, esperando o momento propício para provar que o português estava errado.
Era lá umas dez horas mais ou menos – e ele sabia – por instinto, que o encarregado de pegá-lo para jogar-lhe o jugo de uma centena de marmitas às costas estava pra chegar. Por isso, quando ouviu o ranger da velha porteira, nem ergueu a cabeça para constatar aquilo que, para ele, seria o óbvio.
Mas o tempo foi passando e o Cantineiro, em seu apurado instinto, "pensou" que o encarregado já devia estar com o cabresto sobre suas orelhas. Foi aí que resolveu examinar, levantando a cabeça para entender o motivo da demora. Viu então a porteira escancarada e, já dentro de sua área privada, um potro roliço.
Depois de tanto tempo naquele celibato forçado, desacreditado e humilhado, o Cantineiro virou os olhos nas próprias órbitas e, como visionário que delira de sede no deserto, vê no poldro distraído, uma linda égua fogosa. Um frio esquisito perpassou-lhe a espinha. Ergueu-se, arrepiou-se, relinchou, "sacou da arma" e partiu em desenfreada carreira para suprir a defasagem.
O cavalo pastava calmamente. Não imaginava que aquele velho asno ainda se desse à devassidão de tal promiscuidade. O Cantineiro veio e, como veio saltou em cima, disposto a desfazer a injustiça impingida pelo capataz da fazenda.
Percebendo as intenções obscenas do anfitrião, o poldro procurou dar no pé, na certeza de que sua juventude o livraria facilmente daquele afoito, velho e tarado jumento. Como estava enganado!
Saltando cerca, quebrando tronqueiras, atropelando peões que tentavam obstar-lhe o caminho e a intenção, o Cantineiro foi perseguindo o poldro.
Já ofegante e quase pronto a entregar-se à difamatória comprovação, o cavalinho tentou seu último recurso: saltou para dentro da sala de aula em que a professora, por acaso, falava da força incontrolável dos bichos por ocasião do cio. Explicava também que os irracionais eram mais sensatos, que só procuravam as fêmeas no tempo da reprodução; que o homem era o único ser criado por Deus que burlava as leis naturais...
Exatamente nesta hora e nesta aula, o Cantineiro injustiçado se atracou com o cavalo, bem na frente do quadro negro, dos alunos, da professora e da responsável pela merenda. Um peão tentou evitar o estupro, mas não conseguiu.
O Português, que já havia sido avisado em seu escritório, chegou incontinenti. Verificou os estragos, as difamações, o desrespeito à moral e aos costumes e, sem aceitar o irrefutável argumento de que o Cantineiro havia sido aposentado antes da hora, desabafou furioso:
- Agarrem este tarado e desapareçam com ele. Não quero mais ver esta praga por aqui.
E, horas depois, passos lentos, cabeça baixa, dócil e submisso ao cabresto do Zé das Éguas, lá foi o Cantineiro para outra fazenda. Foi satisfeito. Afinal, não se fere a reputação de um jumento egípcio. O troco estava dado."

HEHEHE - até a próxima pessoal...

2 comentários:

Anônimo disse...

arriégua!

Anônimo disse...

Eitcha!!! Nunca mexa com o aperentemente inofensivo Cantineiro..
O bicho persegue!