segunda-feira, 30 de junho de 2008

Cigarros – por Said Leoni (parte final)

Pegou o último cigarro, observou-o, afinal, era o último. Acendeu cuidadosamente, apesar do nervosismo, colocou-o na boca e tragou, ao soltar a fumaça teve mais uma lembrança. Partida em direção ao casal de amantes, Jorge não conseguiu segurá-lo, foi empurrado e caiu no chão do corredor, com violência arremessou-se em direção ao corpo nu de seu inimigo, um soco, dois socos, três socos, o outro não teve tempo de reagir, Marina gritava, porém o som de seus gritos não chegava onde acontecia a festa. Jorge tentou impedi-lo, não conseguiu, tomado pela fúria, atacou o amigo empurrando-o contra a escrivaninha, Jorge caiu, não levantando mais. Voltou sua atenção para Marina, agora já em estado de choque, havia sangue em sua blusa, sangue do outro de Marina, tirou-a, a moça estava parada, fria, chegou mais perto, acariciou-a no rosto enquanto uma lágrima lhe escorria. Ela começou a chorar, chorar muito, estava desesperada, ele pediu para ela parar, ela não parou, desesperou-se, colocou as mãos em seu pescoço, apertou. Em três minutos ela não gritava mais, ela não respirava. Olhou em volta, dois corpos nus, seu melhor amigo caído. Seu celular tocou, assustou-se, arremessou-o contra a parede, foi embora.
Sorriu, assustou-se – “O que eu fiz?” – agora seu perseguidor estava a dois passos de si, dois passos, sua morte estava próxima, morreria sem arrepender-se, iria para o inferno, começou a rezar – “Pai nosso que está no céu.” – sentiu medo, mais uma vez tremia, porém agora temia seu pós-morte, queimaria no inferno – “Santificado seja o vosso nome.” – e se aquele não fosse um ladrão, e sim um carrasco, um punidor, alguém que vira tudo e o perseguia para puni-lo, até a morte – “Vem a nós o vosso reino.” – afinal sua carteira tinha ficado no bolso direito de sua blusa, era um péssimo assassino, incompetente – “Seja feita a vossa vontade.” – cedo ou tarde iria pagar pelos seus erros, matara sem dó nem piedade a mulher que amava – “Assim na Terra como no Céu” – ele continuava amando-a, puramente, foi o último homem a tocá-la, o último – “O pão nosso de cada dia nos daí hoje.” – engasgou – “Perdoai as nossas ofensas.” – ele não foi o culpado, esta deveria cair sobre Marina e seu amante – “Assim como nós perdoamos quem nos tenha ofendido.”– a adrenalina tomara-lhe o sangue, a razão estava a seu favor, nada poderia ficar contra ele, nada – “Não nos deixei cair em tentação.” – agora seguro, deu a última tragada em seu cigarro, jogou-o fora – “Mas livrai-nos do mal.” - expirou a última nuvem de fumaça e virou-se de frente para seu perseguidor – “Amém.”.
- Você tem fogo?

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Andanças pela internet...


O semestre está acabando... e não é que nesses momentos entre um café e outro estava eu fuçando no google e encontrei tal conto sobre um asno com o mesmo nome que o meu... foi na página http://usuarios.jupiter.com.br/livaldo/cantineiro.html. Confiram comigo no replay:



O Cantineiro - por Livaldo Fregona


"Bem perto de Nova Vida-MA há uma estrada que leva à Fazenda Amazônia, comumente conhecida como "Terras da SAMBRA". Há muitos anos tomava conta lá um português: pagamento tardio dos lusitanos, que tanta escória nos enviaram no tempo da colonização. Este era um homem correto, honesto: um homem com H maiúsculo, como se costuma dizer.
Todos sabem que numa fazenda que se preza há muitas coisas indispensáveis: gado de raça, bons reprodutores, montarias adequadas... A SAMBRA possuía dez mil alqueires de mata que, por causa da ultrapassada e estúpida lei do país, estavam sendo destruídos para a formação de pastarias e para assegurar o direito de posse do latifúndio.
Foi nessa época que a firma importou o Cantineiro, um reprodutor famoso que, talvez, nem os egípcios tenham tido similar. Os peões da fazenda, que sabiam da chegada do garanhão, ficaram extremamente frustrados ao ver descer da gaiola, um asno de aparência estúpida, cabisbaixo, raquítico e abatido pela viagem. E a saber que teria a incumbência de cobrir centenas de éguas fogosas que andavam saltitando pela recente pastaria!
- Este aí não agüenta nem a mula véia lá do Jacó das Antas - foi logo observando, cheio de malícia, um mulato sarará.
O jegue foi colocado num curral apropriado e tratado com certo desvelo. Depois de apenas duas semanas de adaptação e descanso foram-lhe levadas algumas éguas... depois, mais algumas... depois outras e todas foram cobertas com a mesma sofreguidão da primeira. A fama de IMPORTADO que a incredulidade dos caboclos da fazenda parecia querer derrubar, logo foi reconquistada.
Com o tempo as mangas ficaram cheias de burrinhos que cresciam belos e fortes. O pai estava lá, sempre cabisbaixo e aparentemente apático. Nunca uma aparência enganou tanto! Quem olhava aquela figura esquálida, não acreditava no potencial que resumia.
Um dia, porém, certamente indisposto ou doente, ele não ligou para uma égua que lhe fora apresentada: não precisou mais que isso para que o Português (era assim conhecido o Sr. José Manoel) chegasse à dura e, pela primeira vez, injusta conclusão de que o jegue era bananeira que já havia dado cacho. Além de suprimir suas mordomias, ainda o relegou ao humilhante serviço de carregar marmitas para os derrubadores de mata. Daí veio-lhe a alcunha de Cantineiro. Caído em desgraça, ele foi levado para uma pequena e abandonada manga. Só saía de lá na hora do almoço, quando, sob o peso de duas enormes quiçambas cheias de marmitas e carotes d'água, desfazia 10 km de estrada.
Mais gordo, passos trôpegos, cabisbaixo em sinal de protesto... lá ia ele todos os dias para o trabalho rotineiro. Afinal, viera da África para "trabalhar" e não era justo que negasse fogo. Mas, deixa que o tempo é sempre o melhor veredicto de um fato com duas versões. E o Cantineiro, cabisbaixo, pastando o capim peco de uma estiagem danada, ia passando os dias aparentemente resignado, esperando o momento propício para provar que o português estava errado.
Era lá umas dez horas mais ou menos – e ele sabia – por instinto, que o encarregado de pegá-lo para jogar-lhe o jugo de uma centena de marmitas às costas estava pra chegar. Por isso, quando ouviu o ranger da velha porteira, nem ergueu a cabeça para constatar aquilo que, para ele, seria o óbvio.
Mas o tempo foi passando e o Cantineiro, em seu apurado instinto, "pensou" que o encarregado já devia estar com o cabresto sobre suas orelhas. Foi aí que resolveu examinar, levantando a cabeça para entender o motivo da demora. Viu então a porteira escancarada e, já dentro de sua área privada, um potro roliço.
Depois de tanto tempo naquele celibato forçado, desacreditado e humilhado, o Cantineiro virou os olhos nas próprias órbitas e, como visionário que delira de sede no deserto, vê no poldro distraído, uma linda égua fogosa. Um frio esquisito perpassou-lhe a espinha. Ergueu-se, arrepiou-se, relinchou, "sacou da arma" e partiu em desenfreada carreira para suprir a defasagem.
O cavalo pastava calmamente. Não imaginava que aquele velho asno ainda se desse à devassidão de tal promiscuidade. O Cantineiro veio e, como veio saltou em cima, disposto a desfazer a injustiça impingida pelo capataz da fazenda.
Percebendo as intenções obscenas do anfitrião, o poldro procurou dar no pé, na certeza de que sua juventude o livraria facilmente daquele afoito, velho e tarado jumento. Como estava enganado!
Saltando cerca, quebrando tronqueiras, atropelando peões que tentavam obstar-lhe o caminho e a intenção, o Cantineiro foi perseguindo o poldro.
Já ofegante e quase pronto a entregar-se à difamatória comprovação, o cavalinho tentou seu último recurso: saltou para dentro da sala de aula em que a professora, por acaso, falava da força incontrolável dos bichos por ocasião do cio. Explicava também que os irracionais eram mais sensatos, que só procuravam as fêmeas no tempo da reprodução; que o homem era o único ser criado por Deus que burlava as leis naturais...
Exatamente nesta hora e nesta aula, o Cantineiro injustiçado se atracou com o cavalo, bem na frente do quadro negro, dos alunos, da professora e da responsável pela merenda. Um peão tentou evitar o estupro, mas não conseguiu.
O Português, que já havia sido avisado em seu escritório, chegou incontinenti. Verificou os estragos, as difamações, o desrespeito à moral e aos costumes e, sem aceitar o irrefutável argumento de que o Cantineiro havia sido aposentado antes da hora, desabafou furioso:
- Agarrem este tarado e desapareçam com ele. Não quero mais ver esta praga por aqui.
E, horas depois, passos lentos, cabeça baixa, dócil e submisso ao cabresto do Zé das Éguas, lá foi o Cantineiro para outra fazenda. Foi satisfeito. Afinal, não se fere a reputação de um jumento egípcio. O troco estava dado."

HEHEHE - até a próxima pessoal...

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Diálogos Marx-Foucault no inferno (clique na imagem para almenta-la)



O CACH não te representa? Que confortável! - por Vermelho Final

Ao pensar sobre os problemas enfrentados por nós no iefeceagá, é nítida a precariedade do movimento estudantil. Tão magra é a mobilidade dos nossos professores. E quanto aos funcionários, enfim, para alguns, eles ficaram no século passado e por isso não cabem as discussões. Entre o Neoliberalismo e as mudanças necessárias para o pensamento acadêmico, ficamos perdidos diante da possibilidade fazer parte de jogos de interesse sem que estejamos interessados neles.
“O CACH não me representa!”, ouvimos muito por aí. E a resposta: “Nossas reuniões são abertas e democráticas e todas as terças-feiras, etc., etc., etc.” Feito este desentendimento, a mesmice vence e a luta por melhorias não vinga. O CACH não se responsabiliza pela não-participação dos discentes e, estes, por sua vez, justificam sua inércia pela não-representatividade ou pelas divergências com a entidade. O resultado é uma insatisfação geral encoberta pela ausência de responsabilidade dos outros e da impotência de cada um perante ela.
Esse fato ficou claro quando um estudante do segundo ano resolveu lavar a roupa suja de sua categoria, em meio ao Fórum chamado pelos professores para discutir os problemas das Ciências Sociais na UNICAMP. Daquilo que se estava proposto para a discussão, ficamos discutindo a relação entre professores e discentes, o que se apresentou como um dos primeiros problemas a serem resolvidos no instituto.
Ficou nítida uma outra precariedade, o canal de comunicação institucional entre estudantes e professores. Mas, esse problema, ninguém vai resolver! Sabe porquê? Porque para algumas das forças políticas que disputam o CACH, é confortável que poucos estudantes participem e saibam o que realmente pensam os professores, porque assim, é mais fácil de se jogar. E me impressiona que os estudantes que querem construir o CACH, tenham acreditado que não são responsáveis por essa não participação, ou pelo menos, pelo crescimento dela. Isso conforta?
Porque eu tenho certeza que aos professores conforta. E a declaração sincera do estudante, mas ao meu ver, descabida naquele momento, deu a deixa necessária para que os professores nos responsabilizassem pelas dificuldades de organização e mobilização do ifch. A nossa desorganização é confortável! Não porque nossos professores querem “vender a universidade”, ou “não estão nem aí para ela”, mas porque eles podem decidir sozinhos, de forma mais livre e despreocupada, os rumos do instituto ou das ciências sociais, apoiando-se, para isso, em uma razão meritocrática. Um mérito que se deve, ao meu ver, menos às suas experiências e capacidades, que às nossas insuficiências.
Por isso, sugiro que deixemos um pouco de lado nossas ferocidades às políticas do FMI, que são reais e muito grandes para caberem em qualquer discussão. Isso pode “também” ser discutido, mas a estrutura “democrática” do CACH, assim como qualquer estrutura democrático burguesa, permite a ocultação das reais posições e da desproporcionalidade das forças políticas que participam do debate, o que fomenta discussões mecanicistas, que exercem de forma autoritária um moralismo besta, que aponta quem é “esquerda” ou “direita” e compromete o desenvolvimento real das nossas lutas.
É sobre isso que espero falar na próxima edição deste maravilhoso panfleto, que diga-se de passagem, tem um nome lindo! O Cantineiro!

Cigarros – por Said Leoni (parte 2)

Estava com medo, seus sentidos entorpecidos pelo álcool só fortaleciam esse sentimento. Seus olhos nunca paravam em um ponto, olhava para os lados como se isso facilitasse um possível contra-ataque caso fosse agredido repentinamente, pensou em dobrar uma esquina, mas não o fez, não havia se acostumado com o caminho para a casa nova, temia se perder e com isso facilitar a ação do bandido. Manteve o passo firme, o mais reto possível. Queria acender mais um cigarro, restaram apenas dois, pegou um e guardou o outro no bolso, jogou o maço na calçada. Logo o ouviu sendo esmagado.
Cinqüenta segundos depois, a perseguição o torturava. Sentiu a garganta ardendo – “Meu deus!” – havia vomitado na festa, não lembrava. Não entendia porque não dormira na casa de Jorge, bebera exageradamente, passara mal, Jorge era seu amigo, deveria acolhê-lo. O frio aumentou, agora um vento cortante vinha em suas costas, tremia quando a rua tornou-se ladeira, subiu.
O cara que beijara Marina não era bonito e não era feio, normal. Não conhecia, sabia que ele dormiria na casa de Jorge, por isso não quis dormir lá, tinha medo de sentir raiva, não se controlar. Jorge pediu que ficasse, não ficou, e agora não tinha mais os documentos, o dinheiro, a carteira. Se morresse estaria sem identidade, seria um indigente, um ninguém. Em um minuto estava no topo da ladeira.
O vento parou de soprar, estagnou, a rua continuava, agora plana, não conseguia enxergar o fim. Tentava manter o cigarro aceso, o fumo acabara, jogou-o para frente, pisando-o logo depois. Voltou a lembrar da festa, lembrou de Jorge levando-o para o quarto, ficou no corredor até Jorge destrancar a porta, quando a abriu, uma surpresa – “Não!” – na sua frente como animais, Marina e o amante, nus – “Como eu pude esquecer?” – indagou, alterou-se por um momento, ficou vermelho, esqueceu completamente o perseguidor, porém isso não afetara sua velocidade, ao contrário, andava mais rápido.
Pensamentos diversos invadiram sua mente, imagens da Marina imaculada que amava, misturadas a imagens da Marina que desconhecia, possuída como um animal. Começou a tremer – “Ela sorria, ela sorria.” – lembrou, odiou, ficou apavorado, se morresse nunca possuiria Marina, se morresse nunca beijaria Marina. A idéia da morte lhe fez lembrar da perseguição, os passos haviam distanciado um pouco, não muito, agora pareciam estar a três metros de distância, dois minutos depois a rua tornava-se outra ladeira, agora descia.
(continua...)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Sejamos francos! - por Vermelho Final

Entrando na reta final da graduação, é de se ficar feliz em se olhar no espelho e achar-se mais parecido com a Olívia, de Pequena Miss Sunshine, do que com a maioria dos convencionais doutores da academia. Talvez pelo próprio prazer em constatar que se está saindo com mais questões do que respostas; mais preocupado em saber do que quando se adentrou a magnífica bolha que tanto nos prende em sua liberdade.E perceber-se que não estamos sendo tão arrogantes quanto esperam de nós os alunos dos outros institutos; em não se ter transformado em mais um “soldado da verdade”. Não, não é contra a academia que estou falando, imagina. Embora eu não “gaste meus joelhos me curvando diante da hist...ops, da minha história”, desconheço em meu passado a substância que poderia tornar desprezível as coisas que escolhi. Falo sobre a arrogância dos arquitetos da conservação, que insistem em ser nossos Grandes Irmãos aqui no ifichi e tentar nos convencer de estranhar tudo que não se enquadre dentro da “verdadeira” realidade que eles fizeram a partir da teoria.É bom saber que depois de tanta razão, restam em mim resquícios de metafísica e que encontro, nas entrelinhas dos textos, o discurso que não se quis ou não se pode dizer. As cores do mundo que me foram tiradas pelo conhecimento do qual me nutri, não tiraram a vida contida nas imagens de que me sirvo.Mas, é triste a verdade de que, nesta altura da vida, já não posso ter a beleza de Olívia, que existe na própria na própria distração com que ela faz perguntas e na espontaneidade dos seus gestos. Ela, que é tanto sujeito quanto objeto do seu sonho, parte dele. E é isso tudo sem se medir, sem se julgar. Todo esse teatro de justificações, a que estamos acostumados, elaborado para não se parecer mentiroso, malvado ou ignorante é também aparência.Bom mesmo foi encontrar um espaço onde se pode derramar despreocupado aquelas idéias rechaçadas, escondidas, disfarçadas e colocá-las sob julgamento da ciência ou da ideologia, mas sem com elas a pessoa do autor seja também julgada. Tudo graças a aceitação da máscara dos heterônimos por parte dos brilhantes editores deste jornal que permitiram a fuga do panoptismo ifichiano. Sinceridade é tudo!!!



Cigarros – por Said Leoni (parte 1)

Pá-pum! Em menos de dez segundos não havia nada. Estava novamente sozinho na rua pouco iluminada, porém, agora não trazia mais a carteira e o celular no bolso. E ainda por cima, bêbado.
“Filho da puta” – pensou, já que não adiantaria falar, acendeu um cigarro, tragou longamente, assoprou a fumaça e agradeceu por aquele maço ainda intacto – “Ladrões não roubam cigarros.” – voltou a caminhar.
Depois de vinte segundos lembrou que suas pernas doíam e que estava cansado, pensou em parar para dormir um pouco, logo desistiu da idéia, quanto antes estivesse em sua cama, melhor seria. Deu a última tragada, pegou a bituca com as duas mãos, analisou a chama já fraca, segurou-a com a mão esquerda e com a direita deu-lhe um peteleco. Parou para analisar a parábola formada pela luz da chama no ar, sorriu quando esta atingiu o chão, no outro lado da rua. Ouviu um barulho atrás de si. Eram passos.
Voltou a andar, agora mais rápido, temia ser outro ladrão, agora não tinha mais nada para entregar-lhe, o ladrão poderia irritar-se, pensou inevitavelmente em morte, seu coração disparou, apertou o passo. Pensou em acender outro cigarro, mas não acendeu. Sentiu frio, esquecera sua blusa na casa de Jorge – “Droga!” – colocou as mãos nos bolsos da calça, apalpou o maço de cigarros. Os passos atrás de si também se apertaram.
Acendeu mais um cigarro, tentou não pensar no que o seguia, pensou na festa na casa de Jorge – “Que festa...” – a casa era grande, os ambientes diversos, Jorge era um amigo de longa data e sabia dar festas, tinha muitos amigos, inclusive Marina. Os pêlos de seu braço arrepiaram, esfregou-os e maquinalmente enfiou a mão no bolso esquerdo, inútil, seu celular não estava lá para ver as horas.
Na verdade, apenas quarenta segundos passaram e o seu perseguidor continuava, mas seu intento tinha sido alcançado, esquecera-o, seus pensamentos se focaram em Marina. Um amor infantil, pueril demais para seu tempo – “Marina...” – suspirava, lembrara o motivo de seu porre, Marina nos braços de outro, a culpa não pode ser dela, outro beijando Marina – “Desgraçado!”.
O cigarro acabara, jogou a bituca de lado em um movimento ríspido, irritado. Voltou à realidade de sua fuga quando ouviu um escarro. Os passos pareciam mais perto, havia relaxado ao pensar em Marina e seu perseguidor diminuira a diferença, não queria olhar para trás, mas calculou, através do barulho dos sapatos na calçada, uns dois metros e meio de distância. Apertou o passo novamente.
(continua...)

sábado, 7 de junho de 2008

Divulgação

Dia 11/06 - vem aí a primeira edição!


Divirtam-se




quarta-feira, 4 de junho de 2008