quarta-feira, 18 de junho de 2008

Cigarros – por Said Leoni (parte 1)

Pá-pum! Em menos de dez segundos não havia nada. Estava novamente sozinho na rua pouco iluminada, porém, agora não trazia mais a carteira e o celular no bolso. E ainda por cima, bêbado.
“Filho da puta” – pensou, já que não adiantaria falar, acendeu um cigarro, tragou longamente, assoprou a fumaça e agradeceu por aquele maço ainda intacto – “Ladrões não roubam cigarros.” – voltou a caminhar.
Depois de vinte segundos lembrou que suas pernas doíam e que estava cansado, pensou em parar para dormir um pouco, logo desistiu da idéia, quanto antes estivesse em sua cama, melhor seria. Deu a última tragada, pegou a bituca com as duas mãos, analisou a chama já fraca, segurou-a com a mão esquerda e com a direita deu-lhe um peteleco. Parou para analisar a parábola formada pela luz da chama no ar, sorriu quando esta atingiu o chão, no outro lado da rua. Ouviu um barulho atrás de si. Eram passos.
Voltou a andar, agora mais rápido, temia ser outro ladrão, agora não tinha mais nada para entregar-lhe, o ladrão poderia irritar-se, pensou inevitavelmente em morte, seu coração disparou, apertou o passo. Pensou em acender outro cigarro, mas não acendeu. Sentiu frio, esquecera sua blusa na casa de Jorge – “Droga!” – colocou as mãos nos bolsos da calça, apalpou o maço de cigarros. Os passos atrás de si também se apertaram.
Acendeu mais um cigarro, tentou não pensar no que o seguia, pensou na festa na casa de Jorge – “Que festa...” – a casa era grande, os ambientes diversos, Jorge era um amigo de longa data e sabia dar festas, tinha muitos amigos, inclusive Marina. Os pêlos de seu braço arrepiaram, esfregou-os e maquinalmente enfiou a mão no bolso esquerdo, inútil, seu celular não estava lá para ver as horas.
Na verdade, apenas quarenta segundos passaram e o seu perseguidor continuava, mas seu intento tinha sido alcançado, esquecera-o, seus pensamentos se focaram em Marina. Um amor infantil, pueril demais para seu tempo – “Marina...” – suspirava, lembrara o motivo de seu porre, Marina nos braços de outro, a culpa não pode ser dela, outro beijando Marina – “Desgraçado!”.
O cigarro acabara, jogou a bituca de lado em um movimento ríspido, irritado. Voltou à realidade de sua fuga quando ouviu um escarro. Os passos pareciam mais perto, havia relaxado ao pensar em Marina e seu perseguidor diminuira a diferença, não queria olhar para trás, mas calculou, através do barulho dos sapatos na calçada, uns dois metros e meio de distância. Apertou o passo novamente.
(continua...)

3 comentários:

Anônimo disse...

por que se chama "cigarros"?

Anônimo disse...

é questão de tempo para saber, mas o fato de apenas o maço de cigarros estar intacto após o assalto é um bom indício...

Anônimo disse...

ai jorge, jorge...

esse sim, viu!