quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O Pensamento Vivo de Karl Marx - por Flóqui


Lá fora, a noite chorou - por João Campos Nunes

A conversa fora interrompida por uma ira súbita do lado de lá da linha.
Algumas palavras acabaram saindo mais pesadas do que de costume, poucas gramas mais leve do que o insuportável. Eram palavras com nervos duros, daquelas que mastigamos por um tempo já sabendo que não conseguiremos mesmo engolir.
Houve um silêncio fosco.
Você reteve o vômito e acendeu um cigarro. Duas labaredas de fumaça escorregaram pelo seu nariz simpático, deram duas voltas em torno de si e atravessaram a janela aberta.
Você só conseguiu imaginar um ciúme descabido, um receio simples que têm aqueles que precisam sempre sentir a posse, senti-la como uma maquiagem. Não havia explicação mais sensata, definitivamente.
Então tá bom, beijo.
Outro.
O fone voltou ao gancho nesse instante.
Foi o vento que estapeou o seu rosto. Voaram algumas fagulhas de respeito.
A paixão ouvira toda a conversa, insegura batia o pé e amassava a boca, eu não avisei você?
Lá fora, a noite chorou.
Gotas agora apostavam corrida na janela. O som do pensamento ricocheteava em todos os cantos e derretia tudo o que encontrava pela frente. Veio o costumeiro aperto no tórax, o peito vai encurtando e obrigando o coração a subir pela boca. Sem comentar das lagartas na barriga, arrancando expectativa por expectativa.
A saudade lambeu seu rosto fechado.
Fechado por dentro.
A bituca vermelha rodopiou pela janela, acenou para a chuva e se apagou na sarjeta.
O medo chegou sem pedir licença, com seu sobretudo cor de vácuo e seu rosto mais magro do que se é possível, sentou-se e desandou a soltar conselhos. Conselhos em forma de rojões estourando por todos os lados. Sonhos vermelhos em profusão, rodopiando e urrando até sumir. Enfim não lhe restou mais sonho algum, não nesta noite chorosa, porque você é uma bituca atravessando a janela, querendo se apagar.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Confissões de um mal humorado declarado


O Cantineiro # 2 - versão digital




Segunda edição do carismatico pasquim da cantina mais próxima de sua casa em versão digital total flex para os fãns que não tiveram a oportunidade, ou o oportunismo, de comprá-lo.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Ex-Junkie

O Verdureiro


Panfleto distribuído no dia de feijoada "vegana" na Semana Vegetariana da Unicamp em 2008. (clique nas imagens para ampliá-las)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O Vão - por João Campos Nunes

Ela vinha então vindo mais que sorrindo tão depressa que nem percebestes que já ia partindo, se despedindo, nem ficou talvez.

O coração que saltitava contente, a tino, de tanto que vibrou ficou doente, a boca que salivava secou de repente no escárnio do destino que tornou ausente a sensatez.

O dia que já ia raiando, o céu se amarelando, o orvalho escorregando já foi se acabando, a aurora se estrangulando, se deteriorando, já era noite outra vez.

Eu que estava sendo e tendo o mais que pretendo mal vi que já estava morrendo, se perdendo no que não entendo, e o nada voltou a ocupar tudo, como sempre fez.

MRC


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

No Caracol - por Said Leoni

Sem pestanejar pegou sua casa e saiu mundo afora, nada na cabeça, para isso não poderia ter preocupações, se não, não faria, não havia sentido fazer, resolveu ser incoerente com tudo o que pregara até então, contudo estava feliz como nunca, sabia que não seria nada fácil, sua casa era mais pesada do que tinha calculado, era um amontoado de tranqueiras que só faziam trazer lembranças boas ou ruins, na verdade com o tempo as lembranças ruins também transformaram-se em boas pois foram aceitas como parte de um todo maior que é o presente, que em si não existe, mas que não cabe aqui divagar por essas besteiras, já que estava com o pé na rua, no asfalto quente de verão com sol a pino, e o suor já brotava na testa, a casa pesava como nunca, nela os talheres dentro das panelas balançavam como chocalhos num ritmo sincopado de samba, ele ia dançando sorridente apesar do peso que lhe doía nos ombros, a mesa arrastava-se de um lado a outro da cozinha que tinha leite no chão, pois a caixa aberta caíra quando este tropeçou em uma pedra, no toca discos disparou uma música estridente, um rock psicodélico dos fins da década de sessenta, o disco que ele mais gostava, e que acabou riscado, já ficava emputecido com tudo isso, não tinha que carregar tudo isso para sobreviver, as roupas no corpo já bastavam, queria explodir a casa que agora era um fardo sem propósito, uma coisa inanimada que não iria trazer-lhe nenhum prazer, decidido, parou, sentou, e tirou a casa das costas, finalmente livre...

Mas caracóis morrem sem suas casas.

Little Vegan Boy